Categoria: Tecnologia e Indústria

Os 4 verdadeiros motivos para as empresas estarem a abandonar o trabalho remoto

A generalização do teletrabalho foi talvez o único aspecto positivo da pandemia. Teve impacto na melhoria da qualidade de vida de parte dos portugueses.

São inúmeros os aspectos já amplamente discutidos sobre as suas vantagens. Falamos nomeadamente de evitar perder tempo e dinheiro em transportes públicos ou poder morar em em zonas distantes dos escritórios onde as rendas são mais acessíveis.

Como muitas pessoas se devem recordar, há cerca de 2/3 anos as empresas disputavam por aparecer nas “notícias” dando destaque aos aumentos de produtividade através do teletrabalho.

Se o teletrabalho era bom para uma parte significativa dos funcionários e para as empresas, o que agora mudou para que muitas empresas estejam actualmente a obrigar a um regresso forçado aos escritórios?

#1 Estratégia para despedimentos camuflados

Muitas empresas estão com maus resultados financeiros. Pressionar o regresso ao escritório é uma estratégia que está a ser amplamente utilizada para reduzir o headcount.

Ao forçar os funcionários a regressar ao escritório, sabendo que alguns deles podem optar por sair voluntariamente devido a essa mudança, as empresas podem reduzir seu quadro de pessoal sem ter que lidar com acordos e custos de indemnização associados a despedimentos formais.

É fácil prever que se uma empresa tem pessoas a morar em Lisboa e as obriga a vir para o escritório do Porto, a sua única intenção é que elas saiam por sua iniciativa.

Assim permite alcançar uma "limpeza" na folha salarial de forma mais eficiente, mantendo o controlo sobre a narrativa de que o retorno ao escritório é uma necessidade operacional, de cultura, etc.

O risco dessa abordagem é a potencial perda descontrolada de talento, uma vez que os funcionários mais qualificados podem encontrar oportunidades em empresas que oferecem teletrabalho, muitas vezes dispostos a aceitar salários menores.

Despedimentos formais sinalizam também ao mercado que a empresa está em dificuldades, o que afecta angariar novos clientes, valor das acções e reputação no geral, dificultando recrutar novo staff no futuro.

#2 Justificar o investimento em escritórios

Muitas das grandes empresas gastaram milhões em escritórios nos últimos anos. É frequente que sejam edifícios em zonas nobres até por uma questão de status e podem representar investimentos significativos.

O teletrabalho reduziu a procura por escritórios, colocando esses ativos em risco de desvalorização, o que afetará o balanço da empresa.

Investidores querem retorno do seu dinheiro. Um escritório desocupado não gera retorno de nenhuma forma e certamente vai colocar pressão em quem gere a empresa, normalmente CEO e CFO.

Adicionalmente há empresas que preferem o arrendamento. Contudo são geralmente contratos a longo prazo, muito mais longos do que no mercado residencial. Não é raro serem contratos a 10 anos. Tal significa que estão presas a contratos de arrendamento de longo prazo, o que as impede de encerrar escritórios sem incorrer em custos elevados.

Deste modo leva-as a procurar maneiras de justificar a manutenção desses espaços. Forçar o regresso dos funcionários é a maneira mais lógica de convencer um investidor que o dinheiro gasto no aluguer continua a fazer sentido.

Por fim, muitos investidores, acionistas e mesmo clientes, olham com desconfiança para empresas que fecham escritórios, o que pode sugerir problemas financeiros. Manter funcionários no escritório é uma estratégia para mostrar que o investimento imobiliário é ainda justificado.

#3 Managers querem voltar a ser relevantes

As empresas, mais concretamente as camadas intermediárias de gestão, estão preocupadas com a perda de controlo sobre os funcionários que trabalham remotamente. A presença física no escritório permite uma supervisão direta e a sensação de controlo.

Estas chefias, principalmente as mais velhas, cuja função é em grande parte supervisionar o trabalho alheio, sentem-se ameaçadas pela redução da necessidade de controlo no ambiente de trabalho remoto. A micro gestão é muito mais fácil de fazer quando se está fisicamente à distância de alguns metros.

É frequente as empresas terem modelos ineficientes quanto à medição de produtividade. Por isso, ter as pessoas fisicamente num espaço, ter colegas lado a lado para estabelecer padrões de comparação instantâneos, ainda que falaciosos (o João sai às 18h, o Pedro às 20h, logo o Pedro é exemplo) e poder analisar os sacrifícios da vida pessoal em detrimento da carreira são mais visíveis no escritório.

Como sabemos nada disto são medidas de produtividade, mas ainda assim, são das mais usadas pela gestão old school. O que está em causa não é a produtividade, mas sim o controlo.

Adicionalmente alguns gestores gostam de manter a visibilidade de incentivos não salariais, como uma frota automóvel de gama alta (como a TAP), escritórios espaçosos ou status no ambiente de trabalho, que são mais visíveis quando todos estão no escritório.

#4 Pressão por outros factores económicos

As empresas, principalmente as grandes, muitas vezes estão sob pressão de governos e autarquias para trazer os funcionários de volta ao escritório a fim de revitalizar a economia local. O gasto em combustíveis, idas a cafés, restaurantes e lojas que dependem da movimentação do escritório estão a sofrer com o trabalho remoto.

E claro, a receita fiscal que uma economia em movimento gera ao estado pela via dos impostos sobre o consumo. Carros a circular são impostos a entrar.

#Ponto extra

É também importante considerar que muitas empresas nasceram no modelo presencial e não tem estrutura/cultura para funcionar bem num modelo 100% remoto por muito tempo. O "Fully remote" requer mecanismos diferentes e uma cultura especifica, acontece que muitas empresas simplesmente não estão preparadas para implementar as mudanças necessárias para o modelo resultar. impecbusilis

Conclusão

A obrigatoriedade de regresso ao escritório por parte das empresas está a ser motivada por diversos fatores. Primeiro, muitas utilizam esta estratégia para ocultar despedimentos e reduzir custos, contando antecipadamente que alguns funcionários optem por sair.

Segundo, têm investimentos avultados em imobiliário empresarial, que agora tendem a desvalorizar com as desocupações dos edifícios. Por fim, algumas chefias intermédias sentem-se ameaçadas pela perda de controlo sobre os colaboradores que trabalham remotamente, preferindo a supervisão direta.

Outros fatores incluem ainda pressões económicas como forma de o dinheiro circular, pois sem deslocações, grande parte dos princípios económicos não funcionam como esperados.

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