O que têm Tyson Foods, Cazoo, Zalando, Swvl ou Adidas em comum? Despedimentos
Várias grandes empresas com hubs tecnológicos em Portugal têm feitos despedimentos. Fica a saber agora quais são.
Todas estas empresas caracterizam-se por serem estrangeiras, estarem (ou estiveram) interessadas em estabelecer hubs tecnológicos em países periféricos, mais concretamente em Portugal e são fortemente sensíveis aos ciclos económicos.
A Tyson Foods é uma empresa norte-americana gigantesca de setor alimentar, altamente focada na produção e processamento de carnes. A Cazoo um retailer on-line de automóveis usados com origem no Reino Unido. A Zalando um marketplace de roupa e calçado de origem germânica. A Swvl uma empresa de mobilidade como modelo de operação idêntico à Uber com sede no Dubai. Por fim, a Adidas, empresa Alemã que todos bem conhecemos.
Poderíamos também falar do Monese, fintech do Reino Unido ou da Wodify, startup norte-americana que é focada na gestão de ginásios e atividades de fitness, entre muitas outras.
O modo de operação para instalar o hub passa frequentemente por quatro fases.
Primeiramente consultar uma série de stakeholders acerca da atratividade do mercado IT português. Consideram aspectos como a relação qualidade/preço de engenheiros (mercados como Holanda ou Irlanda são extremamente mais maduros, mas muito mais caros). A facilidade das políticas imigração através de tech visas que permitem acesso (quase) imediato ao mercado brasileiro, além de benefícios a nível fiscal por estabelecerem o hub em solo nacional.
Contudo, o politicamente correto obriga a discursos muitas vezes vagos e sem revelarem as verdadeiras razões da escolha, tais como “Escolhemos Portugal pelo seu ecossistema vibrante e pela tech scene da capital portuguesa ser efervescente”.
A segunda fase passa por trabalhar em conjunto com empresas e entidades como a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) e outras instituições do ecossistema para tratar de todos os trâmites legais.
A terceira é identificar uma série de empresas com conhecimento local, que as ajude a montar o hub em Portugal, satisfazendo as necessidades de recrutamento. Podem recorrer tanto a uma Randstad como a uma Landing.jobs entre outras. Ou até usar várias ao mesmo tempo.
Por fim, na quarta fase, tudo se resume a estourar várias centenas de milhares de euros em brand awareness através de media partners aludindo às suas métricas de recrutamento que pretendem atingir e os seus planos para Portugal. Nesta fase, normalmente recorrem a publicações no ECO, Dinheiro Vivo ou Jornal Económico e são muitas vezes mediadas por agências de meios e comunicação.
Por esse motivo, estas “notícias” são quase sempre press releases disfarçadas de “notícias”. É por isso que, quando aparece num jornal, rapidamente aparece nos outros. O jornalista e editor muitas vezes limitam-se a publicar o que lhes é enviado sem grande rigor nem espírito crítico.
A Swvl mal chegou a abrir o hub em Portugal e nenhum dos meios que publicou a sua abertura se preocupou em voltar a pegar na notícia para saber o que falhou. Chamaria-se a isto fazer jornalismo de investigação, coisa tão rara por estes dias.
É portanto natural que várias destas empresas abram em Portugal com toda a pompa e circunstância, beneficiando de inúmeras regalias públicas, mas que depois encerram por entre os pingos da chuva, deixando um rasto de despedimentos.
E como já vimos, muitas delas mal abrem, ou abrem em modelos altamente precários, como é o caso da Google em Oeiras.
Mas é preciso constatar que há de facto empresas estrangeiras que têm contribuído de forma positiva para o mercado português de IT em vários sentidos, desde pagarem mais até terem culturas de trabalho mais positivas.
No entanto, muitas vêm com uma lógica pura de aproveitar a mão de obra qualificada mais barata, e não têm grandes problemas em desistir do país quando é preciso cortar custos.
A facilidade de trazer empresas de tecnologia para Portugal é muito maior em comparação com suas unidades de produção ou I&D. No entanto, essa mesma facilidade de entrada também se reflete na facilidade com que essas empresas podem deixar o país.
Porque vendo bem as coisas, uma é construir ou descentralizar uma fábrica, que tem custos de milhões de euros e demora meses ou anos a fazer. São planos a longo prazo. Outra é fechar um escritório e levar uns quantos computadores para uma nova localização mais barata.