Bootcamp & Licenciatura: Versus ou complementaridade?
Já todos ouvimos falar sobre bootcamps, mas afinal o que são e qual é a diferença quando comparados com uma licenciatura em informática?
O nome bootcamp tem origem militar e foi pela primeira vez usado na altura da Guerra Fria. De modo a perceberem o que iriam enfrentar, os soldados eram treinados de forma a simular batalhas e técnicas, como se estivessem num campo de batalha real.
É daí que vem o nome basecamp (campo básico), que em inglês também passou a ser chamado comumente de bootcamp.
Com o passar do tempo, o conceito de bootcamp passou a ser aplicado a outros segmentos. No campo da programação está a ganhar cada vez mais força, pois é um tipo de treino imersivo, intensivo, rápido, concebido para o desenvolvimento de skills importantes e necessárias. O objetivo é fazer com que o conhecimento teórico do aluno seja absorvido em conjunto com a prática, num curto espaço de tempo.
Aproveitando este mote, vamos tentar perceber as principais diferenças, vantagens e desvantagens entre frequentar um bootcamp ou fazer uma licenciatura em informática, numa universidade.
Bootcamp ou Licenciatura: Principais Diferenças
Bootcamp
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Duração: Podem ser concluídos em meses ou até semanas, podendo ser frequentados em regime de full-time ou part-time, conforme a disponibilidade.
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Acesso: A maioria dos bootcamps não tem requisitos académicos, embora alguns possam pedir determinado nível de inglês, idade mínima de admissão de 18 anos e ter o 12º ano de escolaridade concluído. Podes encontrar mais informação sobre pré-requisitos de acesso a bootcamps no artigo da Teamlyzer, onde enumeramos os 10 melhores bootcamps de programação em Portugal, em 2022.
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Tipo de ensino: Focam-se no elemento prático. O modelo de ensino dos bootcamps é muito similar ao do mercado de trabalho, sendo que tudo o que é ensinado ao aluno é o que lhe será exigido no local de trabalho: trabalhar com software e dominar os seus conceitos básicos.
Saber o que é HTML, CSS, Javascript, Python, Java e outras linguagens de código similares.Podem ser solicitadas apresentações de linhas de código funcionais ou relatórios de análise de dados, porém o enfoque é sempre a vertente prática e a construção de um registo do trabalho, de modo a servir de curriculum para entrada no mercado.
Tal como nas empresas, separa os alunos em equipas para que aprendam, desde o início, soft skills importantes para o desenvolvimento de um grupo, tais como comunicação, colaboração, criatividade, liderança e tomadas de decisão.
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Flexibilidade: Pode ser presencial ou remoto e full-time ou part-time, dependendo da oferta e da disponibilidade do aluno.
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Preço: Os bootcamps têm o mesmo custo ou são ligeiramente mais baratos do que um curso público universitário de 5 anos (licenciatura + mestrado integrado) em engenharia informática. Isto torna-os cada vez mais populares.
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Diploma: Apesar de começarem a existir bootcamps de referência pela qualidade dos seus programas, o diploma ainda não é algo que tenha muito peso. Uma vez que o ensino é muito prático, para se destacar, vindo de um bootcamp, o candidato tem que mostrar isso mesmo - que sabe fazer.
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Mercado de trabalho: A percentagem de empregabilidade de pessoas que saem dos bootcamps diretamente para o mundo do trabalho ronda em muitos casos valores acima dos 90%, sendo quase garantido que após o término do curso é possível encontrar trabalho na área. No entanto, encontrar esse primeiro emprego poderá demorar algum tempo e implicar ir a mais entrevistas de emprego que no caso de um candidato que seja licenciado na área.
Licenciatura em Informática
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Duração: É preciso dedicação durante três a cinco anos, caso a licenciatura tenha mestrado integrado, para nos considerarem formados e aptos a trabalhar na área.
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Acesso: É necessário ter o ensino secundário completo, um curso técnico-profissional ou fazer o regime de acesso para maiores de 23. Nos dois primeiros casos é também necessário realizar exames nacionais e, dependendo do curso, fazer uma prova de ingresso específica. A título de exemplo, em 2021, as notas de candidatura dos últimos colocados no curso de engenharia informática no ISCTE, em Lisboa, na universidade de Aveiro e no Instituto Superior de Engenharia do Porto foram 17, 16.7 e 16.3, respetivamente.
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Tipo de ensino: Abrange muita informação teórica, aprofunda os conceitos e os conhecimentos em várias áreas da disciplina, em matérias tais como algoritmos, bases e estruturas de dados, etc. Envolve a realização de muitos trabalhos escritos e relatórios teóricos.
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Flexibilidade: Salvo algumas exceções, o regime é presencial e com horários definidos.
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Diploma: Apesar de já não ser fator eliminatório em praticamente qualquer entrevista na área, o estabelecimento de ensino onde o profissional se formou é relevante para o curriculum. Todavia, é cada vez mais importante a experiência em trabalhos e projetos. No final, tudo depende da empresa para a qual se está a candidatar.
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Mercado de Trabalho: É uma área com perto de 100% de empregabilidade. A maior conceptualização e abrangência de temas relacionados com as ciências da computação e da engenharia informática pode ajudar na compreensão da natureza da função a desempenhar, assim como a sua possível evolução.
Quais as vantagens de cada um?
A curta durabilidade do curso, o preço mais reduzido e a facilidade de acesso são, sem dúvida, as grandes vantagens dos bootcamps. No entanto, o aluno não adquire as mesmas bases sólidas como se frequentasse um curso universitário na área.
Relativamente à licenciatura em informática, destaca-se a grande formação teórica, que permite que o aluno adquira uma compreensão mais abrangente da área, e o facto de ficar com um diploma no final dos seus estudos. Sem esquecer que a taxa de empregabilidade ronda os 100%.
Bootcamp versus Licenciatura: notas finais
Resumindo as principais diferenças abordadas:
Preço
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Bootcamp - Entre os 0 e os 7000€
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Licenciatura (pública) - Entre 2000 EUR e 9000 EUR (considerando só licenciatura no ensino público e no privado)
Admissão
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Bootcamp - A maioria dos bootcamps não tem requisitos académicos, embora alguns possam pedir determinado nível de inglês, idade mínima de admissão de 18 anos e ter o 12º ano de escolaridade concluído.
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Licenciatura (pública) - É necessário ter o ensino secundário completo; um curso técnico-profissional ou fazer o regime de acesso para maiores de 23; nos dois primeiros casos ainda têm de se realizar exames nacionais e, dependendo do curso, uma prova de ingresso específica.
Duração do curso
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Bootcamp - Varia entre 8 e 12 semanas, podendo, em casos específicos, ter um período que poderá oscilar entre as 6 e as 40 semanas.
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Licenciatura (pública) - Entre 3 a 5 anos.
Empregabilidade
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Bootcamp - Acima de 90%, mas encontrar o primeiro emprego implica ir a mais entrevistas que para um licenciado.
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Licenciatura (pública) - Cerca de 100%.
O objetivo dos bootcamps é essencialmente preparar os futuros programadores para a sua primeira experiência de trabalho. O aluno não vai adquirir os mesmos conhecimentos estruturais que ganharia com uma licenciatura em informática.
Se por um lado, o diploma demora mais tempo a obter, permitirá entrar no mercado de trabalho com mais segurança e rapidez. Comparativamente, um bootcamper termina o curso em pouco tempo, mas poderá ter de esperar e ir a mais entrevistas até alcançar a primeira experiência de trabalho como developer.
Entre uma opção e a outra, o que as diferencia é o que se pretende atingir, em quanto tempo e que tipo de profissional de informática que se pretende tornar. Um não implica que o outro também não seja válido e até complementar. Muitos estudantes e profissionais de IT participam em bootcamps. E muitas pessoas, que entraram em contacto pela primeira vez com programação através de um bootcamp, acabaram por tirar um curso universitário posteriormente. As próprias universidades já começam a organizar os seus próprios bootcamps, como é o caso do famoso MIT.
Não existe uma maneira certa de se tornar um profissional de TI - tudo depende dos objetivos, necessidades, ritmos e métodos de aprendizagem preferidos.