Como está a 99x a construir tecnologia de agentic AI a partir de Portugal
Da consultoria ao produto: 99x procura developers e engenheiros em Portugal para construir xians.ai, plataforma de orquestração de agentes de IA.
A Cleverti começou há 15 anos como consultora nearshore em Lisboa. Em 2023, integrou-se na 99x, um grupo global com mais de 600 profissionais, fundado em 2004, e que foi sempre evoluindo e alargando o leque de serviços e produtos prestados e desenvolvidos até à construção de tecnologia própria. O resultado foi o xians.ai, uma plataforma de orquestração de agentes de IA que já está a ser usada em produção por clientes em vários sectores.
Falámos com a equipa da 99x em Portugal para perceber como se constrói uma plataforma deste tipo, que competências técnicas estão a procurar, e que oportunidades veem para a comunidade tech portuguesa.
Para conhecermos melhor a realidade actual da 99x fomos falar com Guilherme Ramos Pereira, Responsável pelo Desenvolvimento Estratégico da empresa.
1. Para quem não está familiarizado com agentic AI: o que é que o xians.ai faz que seja diferente de usar directamente um ChatGPT ou Claude?
Quando usas o ChatGPT ou Claude directamente, estás a conversar com um único modelo. É excelente para muitas coisas, mas tem limitações quando precisas de automatizar processos complexos que envolvem múltiplas etapas e sistemas diferentes.
O xians.ai funciona como um orquestrador. Coordena vários agentes especializados que cooperam entre si para resolver problemas de negócio complexos. Um agente monitoriza fontes de informação, outro analisa dados, outro interage com sistemas internos. Todos trabalham juntos de forma autónoma para completar workflows completos.
A diferença está aqui: não estás a usar IA apenas para responder perguntas, mas para executar processos de ponta a ponta que antes exigiam intervenção humana constante.
2. A integração da Cleverti no grupo 99x em 2023 permitiu passar de consultoria tradicional para construir produto próprio. Como é que essa transição aconteceu?
Foi um passo natural. Durante 13 anos construímos uma base sólida em nearshore, com foco na qualidade técnica e proximidade com clientes. Quando nos juntámos à 99x, mantivemos essa identidade mas ganhámos escala e capacidade para ir além.
Fazer parte de um grupo global com mais de 600 profissionais deu-nos acesso a conhecimento e recursos para construir tecnologia própria. A transição não foi abandonar consultoria, foi evoluir. Continuamos a trabalhar com clientes, mas agora também criamos soluções completas que escalamos globalmente.
3. Vocês dizem que o xians.ai funciona como orquestrador de agentes que cooperam entre si. Como é que isso funciona na prática?
Imagina um processo de negócio complexo que normalmente exigiria várias pessoas a trabalhar em sequência. Com o xians.ai, criamos agentes especializados, cada um com responsabilidades específicas, e a plataforma coordena a colaboração.
Um agente recolhe e monitoriza informação de fontes externas. Outro analisa e toma decisões com base em critérios definidos. Um terceiro interage com sistemas internos ou executa acções específicas. A plataforma garante que trabalham em conjunto, partilham contexto e avançam para o objectivo final.
O que torna este sistema poderoso é a autonomia: os agentes adaptam-se ao contexto, aprendem com o que encontram, tomam decisões de forma inteligente. É orquestração de inteligências, não apenas de tarefas.
4. Que tipos de problemas é que as empresas estão a querer resolver com agentes autónomos de IA?
As empresas procuram automatizar processos que consomem muito tempo mas exigem capacidade de decisão e adaptação. Não são tarefas simplesmente repetitivas, envolvem análise, interpretação e coordenação entre diferentes sistemas.
O padrão é claro: querem libertar equipas de trabalho operacional para actividades de maior valor. Querem reduzir custos sem comprometer qualidade. Querem escalar operações sem escalar proporcionalmente as equipas.
No fundo, procuram soluções que combinem eficiência com inteligência, mantendo controlo e segurança dos processos críticos.
5. Como garantem que agentes autónomos que trabalham de forma contínua mantêm fiabilidade e não tomam decisões erradas?
A fiabilidade começa no desenho. Não deixamos os agentes soltos sem controlo. Definimos limites claros de actuação, critérios de decisão estruturados, e mecanismos de validação ao longo do processo.
A nossa abordagem combina inteligência artificial com supervisão humana nos pontos críticos. Os agentes têm autonomia para executar tarefas, mas os processos garantem que decisões importantes podem ser revistas e há transparência sobre como e porquê cada acção foi tomada.
Trabalhamos sempre com a premissa de que estas soluções servem as pessoas, não as substituem. A tecnologia liberta tempo e reduz trabalho operacional, mas mantém o controlo humano sobre os aspectos estratégicos.
Segurança, escalabilidade e confiança são pilares do que construímos.
6. Falam de equipas com developers, engenheiros, analistas e especialistas em IA. Que perfis técnicos procuram para continuar a crescer em Portugal?
Procuramos pessoas que queiram fazer projectos relevantes. Competência técnica é essencial, mas o que nos interessa é curiosidade genuína por resolver problemas complexos e vontade de trabalhar em tecnologia emergente.
Precisamos de developers, engenheiros e analistas que não se limitam a executar especificações, mas que pensam sobre arquitectura, escalabilidade e impacto real. Para especialistas em IA, procuramos quem entenda não só os modelos, mas também como aplicá-los a problemas de negócio reais.
Portugal tem talento técnico de qualidade. O que nos move é criar oportunidades para esse talento trabalhar em produto próprio, em tecnologia de ponta, sem sair do país.
7. Para alguém que trabalha em consultoria tradicional: o que é diferente no dia-a-dia quando se está a construir produto de IA?
A maior diferença está no mindset. Em consultoria tradicional, resolves o problema de um cliente, entregas, próximo projecto. Em produto, constróis algo que vai evoluir continuamente, escalar, ser usado por múltiplos clientes em contextos diferentes.
As decisões técnicas que tomas hoje têm impacto a longo prazo. Tens de pensar em arquitectura, manutenibilidade, escalabilidade de forma muito mais rigorosa. E em produto de IA, trabalhas numa área que evolui rapidamente, o que exige aprendizagem constante.
Mas a diferença mais significativa é esta: em vez de entregares projectos, estás a construir capacidade. Estás a criar tecnologia que resolve problemas para muitas empresas, não apenas uma.
8. Que competências técnicas são essenciais hoje para quem quer trabalhar com agentic AI de forma séria?
Primeiro, fundação sólida em engenharia de software. Agentic AI não é só prompt engineering, é construir sistemas complexos, robustos e escaláveis. Arquitectura de software, APIs, gestão de estado, tratamento de erros.
Segundo, compreensão real de como funcionam os modelos de linguagem. Entender limitações, contextos, como estruturar inputs para obter outputs consistentes.
Terceiro, experiência com automação e orquestração. Agentes de IA precisam de interagir com sistemas existentes, bases de dados, APIs externas.
E algo menos técnico mas crítico: capacidade de traduzir problemas de negócio em soluções técnicas. Perceber onde a IA acrescenta valor, onde complica desnecessariamente. A melhor forma de aprender é construir.
9. Acham que Portugal tem condições para mais empresas tech passarem de prestação de serviços para desenvolvimento de produto próprio?
Sim. Portugal tem talento técnico de qualidade, isso nunca foi o problema. O que mudou foi o ecossistema: amadureceu, ganhou experiência, criou referências.
Passámos décadas a fazer prestação de serviços para mercados externos e isso construiu competência real. As nossas equipas trabalham com empresas exigentes, resolvem problemas complexos, dominam tecnologias de ponta. Essa experiência é a base para construir produto próprio.
As condições existem: temos talento, maturidade técnica, acesso a mercados globais. O que falta muitas vezes é ambição, capital e capacidade de escalar.
A nossa experiência mostra que é possível. A 99x está a construir tecnologia proprietária e a vendê-la globalmente, e Portugal pode e deve ser reconhecido não só pelo talento que exporta, mas também pela tecnologia que cria.
10. Agora que estão no Teamlyzer, que tipo de contributo querem ter na comunidade tech portuguesa?
Queremos partilhar o que estamos a aprender. Agentic AI é uma área nova, com muito hype mas pouca aplicação prática em produção. Temos experiência real a construir e operar isto, e o Teamlyzer é o sítio certo para partilhar esse conhecimento com quem está a trabalhar nisto.
Depois, criar oportunidades concretas. Estamos a crescer em Portugal e a contratar. O Teamlyzer liga-nos directamente à comunidade onde está o talento que procuramos, pessoas que querem trabalhar em produto de IA sem ter de emigrar.
E finalmente, mostrar que é possível. Portugal tem competência técnica de qualidade, mas historicamente exportámos mais serviços do que produto.
A melhor forma de mudar isso não é com discursos, é construindo tecnologia que funciona e se vende globalmente. Estar no Teamlyzer permite-nos dar a conhecer a nossa equipa, a nossa cultura, e sobretudo, estar em proximidade com a maior comunidade tech portuguesa.
