Categoria: Entrevistas

DEUS: Como os developers e designers estão a reinventar-se na era da IA?

Descobre como a IA está a transformar o mercado de trabalho tech em Portugal. Novas competências, salários e oportunidades para programadores e designers.

A inteligência artificial (IA) está a reescrever as regras do mercado de trabalho global, mas será que compreendemos verdadeiramente o seu impacto? Enquanto uns temem a substituição em massa, outros veem uma oportunidade sem precedentes para reinventar profissões e criar novas formas de trabalhar.

Para explorar esta evolução, conversámos com dois especialistas que vivem esta realidade no terreno: Simão Carvalho (Golang Developer) e Filipe Plácido (Product Designer) da DEUS, uma empresa pioneira em soluções de IA com escritórios em Amesterdão, Corunha e Porto.

1. Como é que as pessoas percebem a inteligência artificial hoje?

Simão Carvalho: Bem, este é um tema que divide muito as opiniões das pessoas. Alguns acolhem a mesma argumentando que irá melhorar a maneira como trabalhamos e que irá aumentar a nossa produtividade como trabalhadores, automatizando até algumas tarefas, acelerando assim o processo de desenvolvimento de um produto, o que também se traduzirá na criação de novas profissões. Outros temem este desenvolvimento e o perigo adjacente que pode culminar em despedimentos em massa.

Um fenómeno curioso e também muito interessante sobre este tema é que uma empresa de tecnologia provavelmente irá abraçar o seu uso para desenvolvimento de código e até encorajar, no entanto, se utilizarmos LLMs para escrever artigos, desenvolver estudos ou escrever livros já somos um pouco descredibilizados, por consequência, esse produto será visto como menos fiável, mesmo que as fontes sejam fiáveis.

Filipe Plácido: No mundo do design, e especificamente do design digital que é mais a minha área, noto uma dualidade interessante: alguns profissionais veem a IA como uma oportunidade, enquanto outros veem como uma ameaça à sua relevância ou diria algum desconhecimento sobre o potencial. A forma como percepcionamos a IA depende de quão bem compreendemos as suas possibilidades e limitações.

Acredito que o desafio agora é garantir que esta tecnologia seja usada para potenciar os seres humanos, e não para os substituir, tal como refere o Ben Shneiderman na sua perspectiva sobre Human Centered Al. O mundo é vasto e há necessidades em vários sectores da sociedade. Os desafios da humanidade são imensos. Não me parece viável optar por viver ou trabalhar não aproveitando na sua plenitude o que Inteligência Artificial tem para oferecer.

Vamos imaginar por exemplo alguém a escrever na pedra com escopro e martelo. Se lhe mostrássemos um lápis e papel, explicando que poderia registar as suas ideias de forma muito mais rápida e eficiente, será que essa pessoa insistiria em continuar a esculpir na pedra? Ou perceberia imediatamente as possibilidades que o lápis e o papel oferecem? Agora, e se essa pessoa se recusasse usá-los? Forçá-la-íamos a mudar? A obrigatoriedade também não me parece a melhor via, todos são livres de escolher o seu caminho. Mas antes de decidir, parece-me importante as pessoas conhecerem as opções.

O mesmo acontece com a Inteligência Artificial. Há um enorme trabalho a fazer para mostrar o seu verdadeiro potencial e para apoiar o re-skilling das competências humanas. A escolha será sempre de cada um, mas não podemos ignorar a importância de abrir horizontes e demonstrar como viver e trabalhar com Inteligência Artificial pode transformar a forma como criamos, inovamos e resolvemos problemas.

2. Que impacto terá a Inteligência Artificial na indústria e o que mais vos entusiasma no seu papel na vossa área?

Simão Carvalho: O verdadeiro impacto é ainda desconhecido. Estamos na ponta do iceberg digital e eu não estou aqui para falar de futurologia. Mas, atualmente, ferramentas como o ChatGPT ou Copilot já ajudam programadores a fazer o seu trabalho de uma forma acelerada com as suas sugestões de código e, no futuro, isso só ficará mais avançado e cada vez mais automatizado. Pessoas sem formação na área serão capazes de criar aplicações simples utilizando só a sua linguagem como ferramenta de programação.

Eu, por exemplo, estou a entregar em dois dias tarefas que antes demoravam uma semana e mesmo em termos de pesquisa, é muito mais fácil e rápido obter as respostas desejadas. Tudo isto irá revolucionar também muitas outras áreas mas, no entanto, nenhuma destas mudanças irá acontecer do dia para a noite e a sua introdução na nossa sociedade será gradual, mas as suas aplicações são incontáveis. Diria que sobre este tema nem o céu é o limite.

Um dos maiores desafios do momento é como é que as empresas vão utilizar a inteligência artificial porque não têm nem os mesmos objetivos nem as mesmas necessidades. Existem muitas soluções relacionadas com IA mas as empresas não podem cometer o erro de investir em algo de que não necessitam. Isto, obviamente, cria logo espaço no mercado para novas funções. Por exemplo, na DEUS temos especialistas que cujas funções passam por analisar outras empresas e descobrir o que essa empresa cliente necessita e como o pode implementar de forma a investir o mínimo possível e a ter o maior lucro possível.

Têm-se notado um investimento das organizações em copilotos, muitas empresas ainda enfrentam dificuldade em garantir uma adoção alargada. Não basta licenciar ferramentas de inteligência artificial e esperar que as pessoas as usem no contexto de trabalho, é preciso compreender os contextos de uso reais, sensibilizar as equipas e apoiar as pessoas na mudança de hábitos.

Filipe Plácido: A Inteligência Artificial está a redefinir as áreas do campo da User Experience, não apenas na forma como criamos experiências, mas também na maneira como pensamos sobre inovação social e o impacto no futuro do trabalho. Se, por um lado, a Inteligência Artificial pode automatizar tarefas e desafiar a relevância de certas profissões, por outro, também nos dá ferramentas para repensarmos e criarmos novas oportunidades. Podemos usá-la para idear soluções que mitiguem o desemprego que ela própria pode gerar, explorando novos modelos de trabalho e inclusão digital.

Além disso, a Inteligência Artificial acelera processos como o design thinking, double diamond ou Jobs To Be Done, permitindo-nos identificar grandes problemas, testar hipóteses, gerar insights e validar soluções a uma velocidade sem precedentes. Como referiu o Simão, estamos a entrar numa era onde os limites do que julgávamos possível estão a expandir-se rapidamente. Antes, havia barreiras de conhecimento, tempo ou recursos que nos impediam de explorar certas ideias, mas agora, com a IA como copiloto, todos podemos ser um pouco como Leonardo da Vinci, com acesso a um nível de criatividade, conhecimento e experimentação nunca antes visto. Leonardo da Vinci para além de ser um pintor virtuoso, era também exímio noutras áreas do saber, como Anatomia, Engenharia, Arquitetura, Física, Mecânica, Matemática, Botânica, Geologia, Música, Cartografia, Filosofia.

O que mais me entusiasma é precisamente essa democratização do potencial criativo e inovador. Estamos a desenhar não apenas interfaces, mas novas realidades onde a tecnologia não substitui a humanidade, mas amplifica. Parece que se sente no ar uma nova era do Renascimento.

3. Segundo o relatório do World Economic Forum sobre o Future of Jobs, estima-se que nos próximos 5 anos serão criados cerca de 170 milhões de novos empregos contra 92 milhões que se irão perder ou reformular. A Inteligência Artificial vai substituir profissionais ou potenciar a sua produtividade? Como está a transformar o trabalho de developers e designers?

Simão Carvalho: Será inevitável que algumas pessoas percam o emprego graças a esta inovação, especialmente, pessoas cujo trabalho depende de tarefas repetitivas, pois são as mais simples de automatizar. No entanto, acredito mais que esta tecnologia virá como ajudante do que como carrasco.

Nem tudo pode ser automatizado, e a criatividade humana ainda é a chave para a resolução de alguns problemas e criação de soluções inovadoras. Não nos podemos esquecer de que a inteligência artificial não inventa, usa a informação que aprendeu.

O que vai acontecer é que todos teremos de estudar e até nos requalificar, pois o grande perigo é ser substituído por outro humano que possua esse conhecimento. Mais do que saber tudo, a adaptabilidade face a um problema vai ser um fator decisivo para quem procura um novo emprego. Por exemplo, na DEUS temos eventos mensais onde nos podemos propor a fazer apresentações para partilha de conhecimento com a equipa para que estejamos sempre em contínua formação e atualizados face aos desafios do mercado.

Acredito também que como o mundo vai ficar mais acelerado, será também necessário ter mais profissionais. A diferença é que em vez de termos um ou dois projetos por ano, talvez iremos assistir a uma maior demanda para colmatar com a nova velocidade adquirida. Estas ferramentas ajudam-me em diversas áreas do meu trabalho, sendo uma delas poupar tempo a estruturar documentação, por exemplo. Já lá vai o tempo em que perco horas a criar uma apresentação ou a estruturar ideias.

Filipe Plácido: Penso que faz mais sentido e acaba por ser mais motivador pensarmos que a Inteligência Artificial não veio para substituir designers, mas para transformar a forma como trabalhamos. No campo do design visual nota-se que a Inteligência Artificial está a executar certas tarefas muito bem, tais como logotipos, cartazes, e muito do que está na esfera do design gráfico. No caso das aplicações web complexas nota-se os primeiros passos na criação de primeiras versões iniciais para essas interfaces, ou componentes para as design systems, isto leva-nos a perceber que finalmente os designers podem reorientar o seu tempo para atividades mais estratégicas e holísticas, como UX Design ou Service Design, onde há uma enorme falta de profissionais qualificados.

Segundo o relatório do World Economic Forum sobre o Future of Jobs (2025)¹, as funções que combinam pensamento crítico, pensamento sistémico, empatia e colaboração interdisciplinar terão mais procura. O design está a tornar-se mais holístico e interligado com outras áreas, exigindo equipas multidisciplinares para lidar com a complexidade dos produtos e serviços impulsionados por Inteligência Artificial. E segundo o mesmo relatório há uma estimativa do tipo de profissões que irão ver um declínio e as que irão ver uma maior procura e no espectro do design vemos que os designers gráficos serão das profissões que serão mais afetadas nos próximos 5 anos enquanto que os UX Designers e UI Designers serão das profissões que mais procura irão ter.

Para além das pessoas, é preciso também perceber a mudança das organizações, têm-se notado um investimento das organizações em co-pilotos, muitas empresas ainda enfrentam dificuldade em garantir uma adoção alargada. Não basta licenciar ferramentas de inteligência artificial e esperar que as pessoas as usem no contexto de trabalho, é preciso compreender os contextos de uso reais, sensibilizar as equipas e apoiar as pessoas na mudança de hábitos.

4. Que novas oportunidades de emprego surgirão com a Inteligência Artificial?

Simão Carvalho: Bem, já se pode começar a observar a criação de cargos como prompt engineer ou até mesmo manager de AI Agents onde um ser humano vigia o trabalho dos agentes e se assegura que eles estão a fazer o pretendido. Caso seja necessário fazer alguma correção, eles fazem. Ainda temos de descobrir quais são os novos problemas do mercado atual e criar vagas para resolver essas situações. Já se começa também a ver muitas vagas para developers em que se pede conhecimentos em IA.

Não foi há muito tempo, por exemplo, que os cargos Data Scientist e Data Engineer não tinham a procura que têm hoje em dia e eram necessários muitos menos destes profissionais. Foram cargos que se tornaram necessários com a relevância que os dados começaram a ter na nossa vida. Se recuarmos tempo suficiente nem existiam ainda. Estamos agora perante a mesma situação mas num degrau acima.

No entanto, apesar das possibilidades, a qualidade e maturidade dos dados continua a ser um dos grandes bloqueios para tirar o máximo partido da Inteligência Artifical. Para escalar soluções, torna-se essencial adotar arquiteturas como Data Mesh ou AI Mesh que permitam acesso distribuído e seguro à informação, sem redundâncias.

Filipe Plácido: Estão a surgir novas funções como AI Innovation Designers, que combinam pensamento estratégico e técnico para identificar oportunidades de aplicação de Inteligência Artificial com retorno para o negócio e para a sociedade. Nalgumas empresas começa-se a falar no Supervisor de AI Agents conforme o Simão referiu, um papel essencial para monitorizar e otimizar agentes autónomos por exemplo em Contact Centers.

Recordo-me de há uns anos ter feito um Empathy Map onde identificámos as necessidades de um Supervisor de AI Agents e como virámos a situação ao contrário ao identificar num “Empathy maps de um AI Agent” o que precisaria para poder trabalhar. Sei que é algo estranho identificarmos sentimentos e necessidades de um AI Agent mas isso permitiu-nos descobrir uma nova forma de vermos as oportunidades que estão a surgir com a Inteligência Artificial e o que é necessário haver nos sistemas para que isso aconteça da melhor forma para várias pessoas. E quando falo para as pessoas não me refiro apenas aos utilizadores do sistema, mas quem é afectado indirectamente, porque uma coisa boa para uns pode ser uma coisa menos boa para outros. E esta visão holística vai obrigar que haja muito mais profissionais de diferentes áreas a trabalhar na complexidade dos projetos que envolvem AI.

Além disso, a Inteligência Artificial expande o nosso alcance profissional e capacidade empreendedoras, com ferramentas generativas, onde qualquer pessoa com acesso a estas novas tecnologias pode explorar novas áreas que antes eram inacessíveis. O seu impacto na inovação e no empreendedorismo social também é promissor, permitindo que cada cultura adapte a tecnologia às suas necessidades e contribua para a resolução de desafios complexos e interligados, como por exemplo os chamados "wicked problems", que afetam as pessoas, as comunidades e a sociedade como um todo.

A complexidade dos projetos com Inteligência Artificial é tão grande que, conforme as recomendações do último relatório do World Economic Forum sobre o Future of Jobs, será essencial contar com equipas multidisciplinares para garantir uma abordagem holística. Especialistas como o professor James Landay, da Universidade de Stanford, reforçam esta ideia: “O desenvolvimento da Inteligência Artificial deve ser centrado no utilizador, na comunidade e na sociedade. O sucesso da Human-Centered AI requer o envolvimento precoce de equipas multidisciplinares para além dos tecnólogos, incluindo especialistas em design, ciências sociais e humanas, e áreas específicas como medicina ou direito, bem como membros da comunidade.”

Tive recentemente a oportunidade de trabalhar num projeto nos Países Baixos, para um dos três maiores bancos holandeses, onde essa abordagem multidisciplinar foi essencial. A inclusão de diversas áreas e perspectivas foi fundamental para compreendermos a complexidade de imaginar e desenhar o homebanking dos próximos cinco anos e como este se iria interligar com a Inteligência Artificial e com as pessoas no seu dia a dia, em momentos chave ao longo das suas vidas. Foi espetacular ver que, quando abraçamos problemas reais da vida das pessoas em contextos reais, equipas multidisciplinares conseguem fazer coisas incríveis com ajuda da Inteligência Artificial.

Diria que o verdadeiro desafio não é apenas que empregos vão surgir ou desaparecer, mas como podemos usar a Inteligência Artificial para criar um futuro do trabalho mais inclusivo, sustentável e orientado para as pessoas. É sem dúvida uma força poderosa que usada para o bem nos permite resolver uma infinidade de problemas que afetam a humanidade.

5. Que competências ganharão destaque com a Inteligência Artificial e qual será o papel do conhecimento tradicional?

Simão Carvalho: Eu acho que tirando o óbvio, que são conhecimentos em ferramentas de Inteligência Artificial, o conhecimento atual continuará a ser bastante válido. Tal como referi na pergunta anterior, é bastante provável que o futuro seja utilizar uma ferramenta que faça a maior parte do trabalho por nós, mas nós precisamos do conhecimento para validar, corrigir e até guiar essa ferramenta no caminho certo. As calculadoras também não substituíram os matemáticos, mas sim, levaram-nos a novas alturas.

Já dizia Alvin Toffler que o analfabeto deste século não iria ser quem não sabe ler mas sim quem não se sabe adaptar. Mais que nunca a criatividade humana será fulcral para nos distinguirmos no mercado de trabalho mas o conhecimento teórico não irá perder a sua importância. É preciso saber o que se está a fazer, o que se está a pedir e eventualmente como corrigir certas situações. Quando o Excel foi criado, quem o usava como ferramenta profissional continuou a dar uso ao conhecimento adquirido no âmbito da sua profissão. Simplesmente, facilitou-lhes o trabalho e necessitaram de aprender a usar esta nova ferramenta.

Filipe Plácido: Sim, completamente alinhado com o Simão, a Inteligência Artificial é uma ferramenta que não se compara a nada que tenhamos visto antes, extremamente poderosa e super flexível. Um estudo² identificou que os designers de UX com mais anos de experiência em métodos e práticas de UX, e que eram early adopters de ferramentas de Inteligência Artificial, estavam a aproveitar melhor o seu potencial. Em contraste, os designers mais jovens, sem experiência prática de trabalho e sem um domínio sólido dos métodos de UX, tinham mais dificuldade em tirar partido dessas mesmas ferramentas.

A Inteligência Artificial está a redefinir as competências valorizadas no design, e este estudo comparativo entre diferentes gerações de UX designers que usam Inteligência Artificial mostra que o conhecimento tradicional continua a ser essencial. A Inteligência Artificial exige que os designers desenvolvam novas competências, mas sem perderem a essência do que define um bom UX designer: a compreensão do utilizador, o pensamento crítico, o pensamento sistémico e a visão estratégica.

Ainda sobre esta questão, o relatório do World Economic Forum sobre o Future of Jobs aponta que funções como UX Designers vão crescer nos próximos 5 anos, pois exigem um entendimento mais profundo dos contextos humanos e da interação com a tecnologia. O conhecimento técnico sobre ferramentas e processos continua a ser importante, mas cada vez mais complementado por competências como, pensamento crítico e colaboração interdisciplinar. Aliás, fazem falta aulas de pensamento crítico nas escolas portuguesas, e não só no ensino superior, mas logo desde o infantário. Há uma entrevista muito boa sobre este tema no podcast 45° com Miguel Herdade. Muito pertinente para estas competências do futuro aliadas com Inteligência Artificial.

6. Que conselho darias a jovens que vão entrar num mundo impulsionado pela Inteligência Artificial?

Simão Carvalho: Percebo que vão entrar num mercado complicado, mas tentem ver esta situação de olhos abertos e estejam sempre dispostos a aprender. Não percam a esperança.

No entanto, vivemos num mundo em que já não basta ter só um cargo ou fazer só uma tarefa. Temos de ser muito mais. Estudem temas relacionados com AI mas não só, estudem também a teoria e o funcionamento da área a que se candidatam. Vocês serão em última instância os verdadeiros decisores.

Procurem também alimentar a vossa criatividade e capacidade lógica porque serão das qualidades mais apreciadas nos próximos anos. A maneira como resolvemos o problema será mais relevante do que resolver o problema. Temos de nos tornar mais eficazes e eficientes. E mais que tudo, nunca se esqueçam, sejam humanos porque a nossa humanidade não pode ser substituída... Pelo menos por agora.

Filipe Plácido: O Simão tocou num ponto essencial: esperança. E acho mesmo importante reforçar essa ideia, porque os jovens hoje crescem num mundo cheio de incertezas, desde crises climáticas, a conflitos, mudanças no mercado de trabalho, e é fácil sentir-se perdido. Mas, como o Simão disse, é fundamental manter os olhos abertos, continuar a aprender continuamente e não perder a esperança.

O relatório do World Economic Forum trouxe uma perspetiva otimista, trouxe esperança: há muitas oportunidades a surgir, e a Inteligência Artificial pode ser uma ferramenta poderosa para enfrentar desafios reais. Há tanto por fazer, desde resolver problemas sociais, como a falta de água em África ou como ajudar os sem-abrigo, até inovar em áreas como a saúde, a educação, a habitação ou o ambiente. E a Inteligência Artificial já está a ajudar a transformar essas realidades.

Concordo plenamente com o Simão quando ele diz que não podemos ser apenas uma coisa. O mundo já não precisa só de especialistas numa tarefa, precisa de pessoas criativas, versáteis e com pensamento crítico que não têm receio de esticar as suas capacidades para outros horizontes. O meu conselho para os jovens é: explorem, experimentem e ponham as mãos na massa. Não tenham medo de testar ferramentas de Inteligência Artificial, quer seja num contexto pessoal ou profissional. E façam essa aprendizagem junto com outros colegas e pessoas mais seniores que vos possam dar orientação sobre o que estão a fazer bem e o que têm de melhorar.

Há cerca de 3 semanas vi um ótimo exemplo disso: a minha sobrinha, ainda criança, usou Inteligência Artificial generativa com a professora para explicar o problema das fake news de forma divertida e educativa. Isto mostra que aprender a trabalhar com Inteligência Artificial pode começar desde cedo e não precisa ser um processo complicado ou intimidante.

E acima de tudo, como o Simão disse, sejam humanos. Porque, no final do dia, a Inteligência Artificial pode automatizar tarefas e otimizar processos, mas a criatividade, a empatia e a capacidade de ver o mundo com um olhar crítico são insubstituíveis. Hoje, qualquer pessoa, em qualquer lugar com acesso a tecnologia, pode usar Inteligência Artificial para transformar as suas ideias em realidade.

Por isso, não percam a esperança. A Inteligência Artificial não é o fim das oportunidades, é o início de uma nova era onde o conhecimento está mais acessível do que nunca e onde cada um pode fazer a diferença.

¹ The future of jobs report 2025. World Economic Forum

² User Experience Design Professionals' Perceptions of Generative Artificial Intelligence

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