As contas que precisas fazer para calcular o salário líquido
Guia prático para calcular a remuneração líquida real para trabalhadores portugueses.
Sabes quanto ganhas num ano de trabalho? A maior parte das pessoas não sabe e continuam a guiar-se pelos valores que recebem num qualquer mês aleatório do ano.
Este problema é ainda mais notório quando se muda de emprego, e não conseguimos sequer responder à simples questão de quanto vou ganhar, a mais, ou a menos, no espaço de um ano.
São vários os factores que contribuem para esta dúvida, pois as contas não são lineares. Até os estrangeiros têm bastante dificuldade em compreendê-las, nomeadamente por trabalharmos 12, mas recebermos a 14 meses.
#1 – Salário base é pago a 14 meses
O primeiro ponto assente é que há um salário base pago a 14 meses em Portugal. É com esse salário que podemos contar, pois esse é o valor que está contratualizado com a entidade empregadora. (Pago a 14 meses)
#2 – Subsídio de almoço é pago a 11 meses
Outro valor fixo refere-se ao subsídio de almoço, que é pago apenas nos dias efectivamente trabalhados (assumindo regra geral 22 dias). Não é pago nos subsídios de férias, nem de natal ou baixa médica. É uma compensação pelo serviço efectivo de trabalho, de, pelo menos, cinco horas de trabalho diárias. O empregador está dispensado de pagar se tiver cantina ou refeitório. O seu pagamento não é obrigatório por lei. Apenas é se estiver mencionado no próprio contrato de trabalho, ou em instrumento de regulamentação colectiva. (Pago a 11 meses)
#3 – "Ajudas de custo" são pagas a 11 meses
Prémios, abonos de viagem, falhas, ajudas de custo e outros subsídios são recebidos a 11 meses. Estes montantes destinam-se a ser compensações atribuídas por despesas relacionados com o desempenho efectivo de funções pelo trabalhador. Não trabalhando no mês de férias, não faz sentido o seu pagamento. Logicamente também não serão pagos no subsídio de férias nem de natal. Mais informações aqui. (Pago a 11 meses)
#4 – Os descontos para a SS estão indexados ao salário base
Aquilo que não descontas agora é proporcional ao que não vais receber no futuro da segurança social (SS). A tua reforma, subsídio de desemprego, baixa médica, licença de paternidade entre outras situações, estarão sempre indexadas aos descontos efectuado em relação ao teu salário base. Falamos tanto dos descontos feitos por ti, como os descontos feitos pela empresa em relação à tua pessoa (TSU).
#5 – Valor hora pode ser diferente daquele que tem na folha do ordenado
Outro conceito extremamente importante é o valor hora real. Se ganhas mais, mas também trabalhas mais horas, sem que estas te sejam pagas, é esse o valor/hora que deves achar. Isto claro, se pretendes fazer um cálculo rigoroso de quanto vale o teu trabalho.
#6 – Valores que servem para comparação são os totais brutos por ano
Os valores que te interessa contabilizar são os totais brutos por ano, pois esse é, efectivamente, o valor que ganhas. É sobre esses que descontas, e que podes comparar com outras pessoas, independentemente da situação familiar ou número de dependentes (o IRS varia consoante o teu agregado familiar).
Exemplo
Pedro, um programador informático que recebe o equivalente a 35% do salário base em ajudas de custo.
Em brutos o Pedro recebe:
- 1.400€ Em salário base (14 meses)
- 500€ Em ajudas de custo (11 meses)
- 6€ Em subsídio de almoço em cartão (11 meses, 22 dias)
Ganha 26.552€ brutos por ano.
Agora ficamos também a saber que o Pedro é um rapaz solteiro e sem dependentes, o que nos permite calcular o valor líquido.
Em líquidos o Pedro recebe:
- 1.014€ Em salário líquido (14 meses)
- 500€ Em ajudas de custo (11 meses)
- 6€ Em subsídio de almoço em cartão (11 meses, 22 dias)
Ganha 21.148€ líquidos por ano.
Em suma: O Pedro, olhando para um mês aleatório, com 22 dias de trabalho, pode assumir, vendo a sua folha de ordenado, que ganha 1.014€ (base líquido) + 500€ (ajudas de custo) + 132€ (subsídio de alimentação), o que totaliza 1.646€ líquidos. Assumir esse valor, no entanto, é uma interpretação errada.
Fazendo as contas a 14 meses, o seu salário real é de 1.510€ líquidos, pois como foi referido acima, em Portugal, recebemos a 14 meses e em 3 deles apenas pode contar com o valor base.
(14196 + 5500 + 1452) / 14 que é o equivalente à seguinte formula: (salário líquido 14x + ajudas de custo 11x + subsídio de almoço 11x) / 14