Entrevista Geek Girls Portugal | Vânia Gonçalves, Fundadora
Conhece a Vânia Gonçalves, fundadora da Geek Girls Portugal, e o papel desta comunidade na equidade de género no mercado de tecnologia nacional.
Nesta entrevista vamos conhecer melhor a Vânia Gonçalves, fundadora das Geek Girls Portugal. Acabada de sair da sua participação na She is Tech Conference, uma conferência europeia organizada pela Intellias e com o apoio da UN Women, questionamos a Vânia sobre o evento e sobre o tema crucial da equidade de género e igualdade salarial na indústria tecnológica.
1. Quem são as Geek Girls Portugal?
As Geek Girls Portugal é uma comunidade para mulheres que trabalham em ou têm interesse por tecnologia, fundada por mim em 2010. Os objetivos da comunidade centram-se no apoio, capacitação e progressão profissional de mulheres na área tecnológica. Desenvolvemos várias atividades em várias cidades para dar a conhecer e apoiar mulheres, tais como encontros regulares, workshops, mentoria ou a nossa conferência anual. Neste momento temos núcleos em Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa e Faro.
2. Na tua jornada com as Geek Girls Portugal, que barreiras identificas como as mais significativas para as mulheres na indústria tecnológica hoje?
Felizmente, e em comparação com há uma década atrás, há mais representatividade e mais role models de mulheres em tecnologia. No entanto, creio que as mulheres continuam a sofrer de estereótipos implícitos (por exemplo, associados à maternidade e parentalidade) que resultam muitas vezes em menos oportunidades na progressão de carreira.
Em geral, e não só no setor tecnológico, as mulheres têm menos oportunidades para progredir na carreira ou aceder a cargos de liderança e acabam por assumir que não têm as competências necessárias.
3. Como fundadora da comunidade Geek Girls Portugal, desempenhaste um papel fundamental na criação de uma comunidade para mulheres na tecnologia. Qual é a importância que atribuis a estas comunidades para alcançar o equilíbrio de género na esfera tecnológica?
Quando arranquei com a comunidade éramos um grupo muito pequeno de mulheres a trabalhar em tecnologia mas acreditávamos que precisávamos de fazer algo para mudar este panorama. O número de mulheres tem vindo a crescer significativamente, seja pela via de cursos profissionais e superiores ou programas de requalificação de carreira.
Nas comunidades, as mulheres encontram não só acesso a conhecimento, mas a uma extensa rede de mulheres na mesma área, empresas e espírito de entreajuda permitindo-lhes acesso a novas oportunidades de carreira e a sentirem-se menos isoladas e mais apoiadas no seu percurso profissional em tecnologia. Neste momento, não só é necessário atrair mais talento feminino, mas também reter mulheres em tecnologia.
4. Podes partilhar uma história de sucesso ou um exemplo das Geek Girls Portugal que ilustre o impacto positivo de tais comunidades nas carreiras das mulheres na tecnologia?
São muitos os exemplos, mas talvez duas das nossas atividades ilustrem bem casos de impacto na carreira das mulheres em tecnologia. Os nossos encontros nas várias cidades são realizados em escritórios de empresas tecnológicas. Nestes encontros, o contacto com as empresas tem proporcionado oportunidades mútuas, para as empresas conhecerem mais talento e para as mulheres conseguirem novas oportunidades de emprego.
Igualmente, no nosso programa de mentoria, a rede de apoio e entreajuda e o conhecimento partilhado, têm ajudado várias mulheres em processos de requalificação de carreira a conseguirem a primeira oportunidade de trabalho em tecnologia, bem como têm incentivado e empoderado várias mulheres a desenvolverem a confiança e as competências necessárias para progredirem na sua carreira na área da tecnologia.
5. A questão da igualdade salarial é fundamental na discussão sobre equidade de género. Na tua experiência, que estratégias consideras eficazes para abordar e promover a transparência e igualdade salarial?
Precisamos mesmo de caminhar para mais transparência salarial na publicação de oportunidades de emprego. Apresentar o intervalo salarial da função é fundamental para garantir que todos começam em pé de igualdade e com potencial para ajuste em função da senioridade e desempenho.
Num mundo ideal, as empresas deveriam também fazer uma avaliação interna de comparação de salários entre os vários funcionários na mesma função e ir ajustando as discrepâncias. Mas precisamos também de incentivar as mulheres a negociarem o seu salário seja à entrada, seja ao longo da progressão na sua função.
6. Como foi a tua experiência na She is Tech Conference e qual a sua importância para as mulheres na tecnologia?
A She is Tech Conference juntou mulheres com percursos profissionais incríveis que são modelos a seguir para todas nós. São inspiração e exemplo para acreditar que tudo é possível. As suas histórias e partilhas honestas fizeram-nos refletir sobre dificuldades e sucessos que qualquer pessoa tem nas suas carreiras.
As histórias de sucesso das comunidades e da importância de um local e cultura de trabalho seguro, diverso e inclusivo foram também muito relevantes para dar a conhecer diferentes realidades e para o incentivo na procura de mais apoio e de novas oportunidades.
7. Houve alguma ideia ou iniciativa discutida na conferência que achaste especialmente cativante para alcançar a equidade de género na tecnologia?
Construir a equidade de género na tecnologia não é um trabalho isolado. Reunir comunidades, mentores, parceiros, empresas, colaboradores e intervenientes-chave no ecossistema é essencial. Partilhar experiências e aprender uns com os outros torna esta missão mais impactante e devíamos ter mais destas iniciativas que fomentam a colaboração entre outros com perspectivas diferentes.
8. Finalmente, que conselho darias a indivíduos e organizações que procuram apoiar ativamente a diversidade de género na indústria tecnológica?
O apoio a iniciativas das comunidades e conferências é excelente, mas a transformação para a diversidade, equidade e inclusão tem que começar dentro de portas, na cultura e iniciativas da empresa. A valorização destes conceitos na prática, em iniciativas internas, formação e no dia-a-dia das equipas, são a base necessária para atrair e reter mais talento feminino e de minorias.